Sou cirurgião cardio-torácico e agora, embora activo desempenho outras funções.
Depois de ser Director de Serviço da Unidade mais produtiva do País da minha especialidade passei a Director Clínico do Hospital da Luz Lisboa . Inaugurei-o e vi-o crescer e tornar-se uma referência inquestionável da medicina . Ao fim de 12 anos e depois de um trabalho de sucesso passei a Presidente do Conselho Clínico Superior da Luz Saúde. Esqueci-me de vos dizer que fiz 77 anos em Outubro. Peso 84 kg e meço 1,83 m. Mas agora não estou a escrever como Cirurgião nem como Director de Serviço ou Clínico mas sim como um doente que se transformou num atleta…zinho.
Faz em Dezembro 5 anos que fui operado , a um cancro do pâncreas- removeram-me o pâncreas, baço e parte do estômago- cirurgia que foi seguida de 12 sessões quinzenais de quimioterapia. Nessa altura e por aconselhamento da minha Oncologista comecei a fazer exercício acompanhado e regular logo após ter recuperado da cirurgia e mesmo durante a quimioterapia fi-lo uma vez por semana . Deu-me uma capacidade de resistência que não antecipava e assim que acabei a quimio passei a 2 vezes semanal, sobretudo exercício de força. E porquê exercício de força – porque vários estudos têm comprovado os seus benefícios cardiovasculares e não só ,decorrentes das diversas propriedades mecânicas e metabólicas da contração muscular (1) . Para alem destes aspectos há um que por vezes é esquecido que é o bem estar mental -o sentirmo-nos bem depois da prática deste tipo de exercício.
Fui recuperando gradualmente a energia e o apoio que obtive do exercício foi inquestionável .Comecei por isso a recomendar a todos os meus amigos que elogiavam a minha recuperação a realização deste tipo de exercícios bi-semanais sobretudo assentes na força e sempre acompanhado por um personal-trainer muito experiente .
A vigilância clínica a que era submetido detectou ao 3º ano pós cirurgia uma alteração patológica no pulmão e assim voltei a ser operado e a fazer mais 12 ciclos quinzenais de quimioterapia.
Retornei ao passado de uma sessão semanal de exercício mas terminado esse período em Dezembro ultimo retomei as 2 sessões semanais . Faço-as sempre espaçadas de 2 dias pois acho esse tempo de recuperação é importante
Agora que estou aqui sentado a escrever este testemunho depois de uma sessão matinal de exercício de força sinto-me cansado mas feliz . Já não dispenso estas sessões e quando por um motivo grave não as realizo sinto falta.
Alem deste exercício complemento o exercício com o meu golfe semanal. O andar em contacto com a natureza com os meus amigos golfistas para alem do aspecto físico tem um aspecto lúdico muito importante .
Já superei os valores de exercício que tinha antes da 2ª operação e tal como me fizeram e acima referi recomendo vivamente os exercícios de força numa perspectiva de desenvolvimento muscular global .
Numerosos artigos científicos acentuam o benefício desta prática (2,3,4) mas muito provavelmente nunca tinham surgido referências pessoais e vividas como este MEU testemunho.
Umas palavras de precaução- não iniciem esta prática de exercícios de força sem uma avaliação clínica prévia e sempre acompanhados por um profissional do exercício e não queiram ficar uma ou um atleta muito rapidamente . Contentem-se como eu em ser um atleta… zinho.
Estou convicto que tal como eu não se arrependerão.
Referências Bibliográficas
1-Dores H- Treino de força e saúde cardiovascular . Falácia ou realidade . htpps// exercisestudio.pt
2-Silva F et al-Recomendações para o treino de força em idosos:uma breve revisão da literatura .-htpp//repositório.ipcb.pt
3-Carvalho J, Soares J.- 2004.Envelhecimento e força muscular. Rev.Port. Ciencias Desp. 4,79-93
4-Lee P,Jackson E-2017-Exercise prescriptions in older adults. Ame. Fami. Physic. 95-425-32