Um dos inúmeros fatores que leva as pessoas a realizar exercício físico, é para que se tornem mais “flexíveis” e se sintam menos “presas”, ou seja, pretendem ganhar mobilidade articular, algo visto como importante para ter uma boa qualidade de vida, especialmente em populações em idades mais avançadas. Para ganhos de mobilidade, a prática de alongamentos é vista como a mais efetiva. Na verdade, ao longo dos anos, tem sido incutido na sociedade que os alongamentos são fundamentais para a saúde e qualidade de vida das pessoas. Mas por que razão? Será realmente verdade?
As principais razões que justificam a importância de alongar são:
PREVENIR DORES/LESÕES MUSCULARES – No entanto, a ciência tem sido clara a demonstrar que os alongamentos não previnem lesões e que a sensação de diminuição de dor é resultado de efeitos agudos, ou seja, diminui apenas temporariamente e não a longo prazo. (1-5)
MELHORAR A POSTURA – No entanto, há diversos estudos científicos a demonstrar que a prática de alongamentos tem um papel irrelevante na melhoria de desvios posturais. (6-8)
PREVENIR “ENCURTAMENTOS” MUSCULARES – No entanto, os encurtamentos musculares não ocorrem da inatividade física ou da realização do treino de força. Apenas há evidência científica que existem em casos particulares como imobilização de algum membro por fratura ou constrangimentos neurológicos, ou seja, não alongar não irá provocar encurtamentos. (9-11)
PREPARAR OS MÚSCULOS PARA O EXERCÍCIO – No entanto, há estudos científicos a evidenciar perda de força e redução de performance, sendo que alongar antes do treino poderá até prejudicar o rendimento do treino. Outras práticas serão mais benéficas como preparação para o treino. (12-16)
DIMINUIR AS DORES APÓS O TREINO – No entanto, há diversos estudos científicos a demonstrar que não há qualquer correlação entre alongar e diminuir as dores após o treino (DOMS). (17-20)
MELHORAR A MOBILIDADE– No entanto, estes ganhos são apenas temporários, e a ciência também tem sido clara a demonstrar que o treino de força é tão efetivo como os alongamentos nestes ganhos, sendo que os alongamentos poderão ser substituídos por Treino de Força, seja com peso corporal, halteres/barra ou máquinas de musculação, explorando a máxima amplitude de movimento disponível do praticante. (21-26)
Como poderá ter observado, a verdade é que todos os argumentos que demonstram a importância de alongamentos têm pouca validade científica, no qual podemos chegar à conclusão que alongar não é assim tão importante e que podemos retirar esta prática na nossa sessão de treino. Espero que o leitor interprete esta informação como uma forma de desmistificar e educar a sociedade a adotar melhores práticas, é algo que tanto preconizarmos no Exercise Studio, a educação, e não como um ataque ou proibição aos alongamentos.
Há pessoas que efetivamente sentem-se bem a alongar, mas é importante que os praticantes estejam conscientes dos reais benefícios que podem obter com a prática (não obterão os resultados que por vezes procuram), e que “sentir-se bem” não significa necessariamente “fazer bem”. Não raras as vezes, adotamos práticas diárias que nos fazem sentir bem, mas que pouca relevância tem para a nossa saúde, algumas delas até poderão ser prejudiciais (exemplo: tabaco, álcool).
No EXERCISE STUDIO, pretendemos basear-nos em evidência científica atual e robusta, e responder às necessidades da sociedade, tornando esta mais forte e saudável. A nossa metodologia de treino tem como foco o Treino de Força combinado com o Treino Aeróbio, vulgo “Cardio”, práticas suportadas cientificamente que evidenciam benefícios para a saúde e qualidade de vida, como no aumento da capacidade cardiovascular; no combate à diabetes tipo II; na redução de níveis de colesterol e hipertensão arterial; na prevenção de patologias músculo-esqueléticas (e.g sarcopenia); na prevenção e combate de doenças cardiovasculares e oncológicas, e na melhoria dos níveis de força muscular e mobilidade articular. (27-39)
Não incluímos a prática de alongamentos por dois princípios que valorizamos imenso: tempo e eficiência.
O tempo é das principais barreiras para a inatividade física, ao retirar a prática da sessão de treino, permitirá ao praticante ter treinos de menor duração, podendo permitir uma maior adesão à prática de exercício. Assim sendo, o tempo que treinamos tentamos focar em práticas que demonstram resultados benéficos, garantindo que cada minuto de treino é efetivo, isto é, procuramos eficiência. Em suma, para ganhos de mobilidade, que é o tema deste artigo, o treino de força será suficiente, não havendo vantagens ao acrescentar alongamentos. Contudo, não somos contra a prática nem a proibimos, caso fizer sentido para o praticante, recomendamos que o faça com uma intensidade ajustada (após ou dias diferentes treino) respeitando sempre os limites articulares, de forma a manter a segurança, outro princípio que tanto priorizamos.
JUNTOS POR UMA SAÚDE MAIS FORTE!
A EQUIPA DO EXERCISE STUDIO
Referências bibliográficas:
PREVENIR LESÕES
1-(Small, K., et. al. A Systematic Review into the Efficacy of Static Stretching as Part of a
2-Warm-Up for the Prevention of Exercise-Related Injury. 2008)
3- (Thacker, S. et. al. The Impact of Stretching on Sports Injury Risk: A Systematic Review of the Literature. 2004)
4-(Herbert, R., Gabriel, M. Effects of stretching before and after exercising
on muscle soreness and risk of injury: systematic review. 2002)
5-(Shrier, I. Stretching before exercise does not reduce the risk of local muscle
injury: a critical review of the clinical and basic science literature. 1999)
POSTURA
6-(Filho, J. et. al. Effects of stretching exercises for posture correction: systematic
review. 2014)
7-(Hrysomallis, C. Effectiveness of strengthening and stretching exercises for the
postural correction of abducted scapulae: a review. 2010)
8- (Bansal, S.et. al. Exercise for Improving Age-Related Hyperkyphotic Posture: A
Systematic Review. 2014)
ENCURTAMENTOS MUSCULARES
9-(Weppler, C., Magnusson, S. Increasing Muscle Extensibility: A Matter of Increasing
Length or Modifying Sensation? 2010)
10-(Konrad A, Tilp M. Increased range of motion after static stretching is not due to changes in muscle and tendon structures. 2014)
11-(Department of Biochemistry and Molecular Biophysics Thomas Jessell, Siegelbaum, S., & Hudspeth, A. J. (2000). Principles of neural science (Vol. 4, pp. 1227-1246). E. R.)
AQUECIMENTO
12-(Murphy, D. A critical look at static stretching: are we doing our patients harm? 1991)
13- (Nelson A., Kokkonen, J. Elevated metabolic rate during
passive stretching is not a sufficient aerobic warm-up. 2013)
14-(Small, K., et. al. A Systematic Review into the Efficacy of Static Stretching as Part of a Warm-Up for the Prevention of Exercise-Related Injury. 2008)
15 -(Simic, L.et al. Does pre-exercise static stretching inhibit maximal muscular performance? A meta-analytical review. 2012)
16 -(Behm, D.et al. Acute effects of muscle stretching on physical performance, range of motion, and injury incidence in healthy active individuals: a systematic review. 2015)
DORES APÓS TREINO
17 – (Sethi, V. Literature review of Management of Delayed onset muscle soreness (DOMS). 2012)
18- (Herbert, R., Noronha, M. Stretching to prevent or reduce muscle soreness after exercise. 2007)
19 -(Herbert, R., Gabriel, M. Effects of stretching before and after exercising on muscle
soreness and risk of injury: systematic review. 2002)
20 -(Graber, C. et. al. ACSM Position Stand. Quantity and Quality of Exercise for Developing and Maintaining Cardiorespiratory, Musculoskeletal, and Neuromotor Fitness in Apparently Healthy Adults: Guidance for Prescribing Exercise. 2011)
MOBILIDADE
21 -(Afonso, José, et al. “Strength Training versus stretching for improving range of motion: A systematic review and meta-analysis.” Healthcare. Vol. 9. No. 4. Multidisciplinary Digital Publishing Institute, 2021.)
22- (Konrad A, Tilp M. Increased range of motion after static stretching is not due to changes in muscle and tendon structures. 2014)
23 -(McHugh, M., Cosgrave, C. To stretch or not to stretch: the role of stretching in injury prevention and performance. 2009)
24 – (Monteiro, W. et al. Influence of Strength Training on Adult Women’s Flexibility. 2008)
25 -(Fatouros, L. et al. The Effects of Strength Training, Cardiovascular Training and Their Combination on Flexibility of Inactive Older Adults. 2002)
26- (Nuzzo, J., The Case for Retiring Flexibility as a Major Component of Physical Fitness. 2019)
BENEFÍCIOS TF+TA
26 – Williams, M. A., & Stewart, K. J. (2009). Impact of strength and resistance training on cardiovascular disease risk factors and outcomes in older adults. Clinics in geriatric medicine, 25(4), 703-714.
27 – Strasser, B., Steindorf, K., Wiskemann, J., & Ulrich, C. M. (2013). Impact of resistance training in cancer survivors: a meta-analysis. Medicine & Science in Sports & Exercise, 45(11), 2080-2090.
28- Louzada, R. A., Bouviere, J., Matta, L. P., Werneck-de-Castro, J. P., Dupuy, C., Carvalho, D. P., & Fortunato, R. S. (2020). Redox Signaling in Widespread Health Benefits of Exercise. Antioxidants & Redox Signaling.
29- Pedersen, B. K., & Febbraio, M. A. (2012). Muscles, exercise and obesity: skeletal muscle as a secretory organ. Nature Reviews Endocrinology, 8(8), 457-465.
30 – Severinsen, M. C. K., & Pedersen, B. K. (2020). Muscle–Organ Crosstalk: The Emerging Roles of Myokines. Endocrine Reviews, 41(4), bnaa016.
31- Kraemer, W. J., Ratamess, N. A., & French, D. N. (2002). Resistance training for health and performance. Current sports medicine reports, 1(3), 165-171.
32- Association of efficacy of resistance exercise training with depressive symptoms: meta-analysis and meta-regression analysis of randomized clinical trials. Jama Psychiatry, 75(6), 566-576. 19- Kovacevic, A., Mavros, Y., Heisz, J. J., & Singh, M. A. F. (2018).
33- The effect of resistance exercise on sleep: a systematic review of randomized controlled trials. Sleep medicine reviews, 39, 52-68
34- Westcott, W. L. (2012). Resistance training is medicine: effects of strength training on health. Current sports medicine reports, 11(4), 209-216.
35- Pedersen, Bente Klarlund, and Bengt Saltin. “Exercise as medicine–evidence for prescribing exercise as therapy in 26 different chronic diseases.” Scandinavian journal of medicine & science in sports 25 (2015)
36 – Galloza, Juan, Brenda Castillo, and William Micheo. “Benefits of exercise in the older population.” Physical Medicine and Rehabilitation Clinics 28.4 (2017)
37- Henkel, K., et al. “Physical training for neurological and mental diseases.” Der Nervenarzt 85.12 (2014)
38- Giada, Franco, et al. “Exercise prescription for the prevention and treatment of cardiovascular diseases: part II.” Journal of Cardiovascular Medicine 9.6 (2008)
39 – Schmitz, K. H., Campbell, A. M., Stuiver, M. M., Pinto, B. M., Schwartz, A. L., Morris, G. S., … & Patel, A. V. (2019). Exercise is medicine in oncology: engaging clinicians to help patients move through cancer. CA: a cancer journal for clinicians, 69(6), 468-484